Já haviam passado algumas longas noites, talvez eu esperasse que o tempo não se movesse, que o vento me guiasse, ou a dor desaparecesse, mas isso era apenas uma utopia incurável da minha cabeça. Talvez eu quisesse repousar durante a tarde em uma macieira, sem que alguma serpente tentasse meus pensamentos, sem que as lágrimas fossem atraídas até a nascente do meu coração, fazendo arder algumas feridas.
Mas o tempo, e não há melhor remédio do que este, fez algumas dores adormecerem, pois não se queimam cartas e rasgam-se fotos, e faz-se apenas isto, numa tentativa incoerente de ludibriar o coração, até porque das milhares de vezes que o fiz, sempre tive algum pedaço entre meus cabelos, entre meus dedos, que faziam-me obrigatoriamente, retornar.
Não estava triste, mas um buraco fundo consumia-me por todas as vezes que meus pensamentos pairavam no ar, tentei afogá-los com a ajuda de algumas lágrimas, inúteis, a dor era seca, havia chorado tanto em algum momento, que meus pensamentos acabariam por caminhar sozinhos entre cada fresta do passado.
Mas das muitas portas em que abri de olhos fechados, encontrei abrigo em uma luz terna e mansa, onde seu brilho ofuscante rapidamente me acalmava, talvez fosse um novo amor, uma nova amizade que discretamente recebia-me com fervor. Mas era apenas eu, aprendendo a alimentar-se da minha alma, do meu sorriso, e sobretudo da minha companhia.
E já faz algum tempo que dei as costas para o passado, agradeci os seus ensinamentos, pois hoje são de grande valia, contudo, não há instante que me faça reviver situações das quais de suas lições positivas já tenha tirado proveito suficiente para seguir. Alguns momentos guardei, de outros, simplesmente esqueci, pessoas levei, outras deixei.
Deixei porque ciclos simplesmente se acabam, coisas são feitas e desfeitas, há sempre renovação em nossas vidas, levo comigo o que me faz bem, tratamento de minha alma em primeiro lugar, meu corpo não ficará doente, e meu sorriso poderá se estender até eu fechar meus olhos para o mundo inteiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário